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Black Rebel Motorcycle Club - Specter at the Feast


Nem só dos sentimentos mais corriqueiros, como o amor e o ódio, surgem grandes obras de arte. O sombrio sentimento de luto também pode inspirar bons trabalhos, sobretudo na música. Quem sabe o mais emblemático exemplo disso seja o AC/DC, que transformou a dor da perda de seu vocalista, Bon Scott, em um dos melhores discos de sua carreira, Back in Black.

Outros exemplos de tributos transformados em música não são difíceis de encontrar mas, ao contrário do que foi interpretado por muita gente, esse não é o caso de Specter at the Feast, mais recente álbum de estúdio do trio californiano Black Rebel Motorcycle Club. Pelo menos não completamente.

O Black Rebel, ou B.R.M.C., passou por uma perda que, apesar de não ser tão direta para sua música como foi a de Bon Scott para o AC/DC, sem dúvida os obrigou a parar para respirar. Em 2010, Michael Been, pai do baixista Robert Been e espécie de mentor musical do grupo, morreu vítima de um ataque cardíaco sofrido no backstage de um dos shows da banda.  

Specter at the Feast é o primeiro trabalho de inéditas do B.R.M.C. após a morte de Been. Os momentos de homenagem realmente estão lá, mas o buraco do disco é bem mais embaixo e não se parece muito com uma fossa.

O disco é um festival de altos e baixos que o torna inconstante, mas é também uma tentativa digna de emular o pós-punk com doses de rock de garagem em composições que não deixam nada a desejar. E é exatamente por isso que sua melhor faixa é também o seu maior “pecado”: "Let the Day Begin", um cover de escolha justificável, mas um cover.

"Let the Day Begin" foi um dos hits do The Call, banda liderada por Michael Been nos anos 80. Been filho e seus colegas de banda fizeram um grande trabalho de restauração, trocando o eco comum nas baterias dos anos 1980 por pancadas mais vivas, e dando uma roupagem moderna para a canção que agrada bem mais do que a versão original.

Outros resquícios de tributo estão na melancólica "Fire Walker", a excelente faixa de abertura; na balada paternal "Lullaby" e na desnecessária "Returning", que de tão sofrida quase descamba para a pieguice. O disco engrena pra valer a partir de "Hate the Taste", um rock semi-sujo que serve de introdução para "Rival" e "Teenage Disease", duas porradas pós-punk com energia suficiente pra mandar qualquer fantasma pro espaço.

Em boa parte do disco o som lamacento da guitarra de Peter Hayes se soma ao baixo de Been para criar uma atmosfera pesada e soturna. Mas são as baquetas viris de Leah Shapiro que garantem o andamento da obra e lhe acrescentam um charme irresistível. Em Specter at the Feast a baterista prova de vez que não só está perfeitamente entrosada com a dupla fundadora como também já impôs respeito e desenhou o seu espaço dentro da banda.

Specter at the Feast está longe de ser uma obra prima, mas mais longe ainda de ser um burocrático lamento. Por ter saído literalmente das cinzas, é um disco bom o suficiente pra se prestar atenção.

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